A CAIPORA O SER MITOLÓGICO CAPAZ DE RESSUSCITAR OS ANIMAIS.
Por que irei
falar de uma lenda brasileira?Bom primeiro porque as lendas me deixam fascinado...
Segundo porque não irei falar da entidade indígena masculina
especificamente!Isso mesmo amigos se eu fosse falar do Caapora (nome original
no tupi), o título estaria no masculino...Vou falar da relação que nós temos
com lugares...uma casa, uma cidade, uma fazenda ou um sítio!Para falar disso
discorrerei sobre um lugar, um sítio...A Caipora!
Onde fica?Por
que é tão importante pra você?O que esse lugar tem de especial?Calma ,
calma...Sua localização é no município de Antônio Martins/RN.Porque ela é
importante para mim, bem isso é fácil muitos e muitos dias de minha infância
passei lá...Tinha férias ia para caipora, era fim de semana, ia para a caipora...Dividi
minha infância entre ficar na sede do município e ir para sítio, (não ia
somente para lá, também visitava outro sítio dos meus avós mais isso é coisa
para outra postagem).
Nesse sítio
cresceu também uma das pessoas mais importantes para mim...o meu pai!Lá também
moraram meus bisavós(que criaram meu pai e tia Inês), pai Dias e vovó Mariquinha.A casa
grande da propriedade hoje pertence a tia Inês é uma casa grande com alpendre,
pintada na cor amarela desde que eu era pequeno...Em cima , bem cima do alpendre
tem uma inscrição em alto relevo Cítio São José e em baixo disso está escrito
MM. Sitio com C?Isso mesmo...com algum anos na sala de aula aprendi que aquele
nome não era um erro simples dos meus bisavós e sim um registro de como nossa
amada língua é complexa pois temos duas letras( a letra C e a S ) que juntas
com a vogal I nos dão o mesmo fonema!!!Sim senhores é um erro, todavia
justificável, e segundo Tio Zé (o Zé Dias novo) foi um erro do pedreiro, que
era da família dos Chapéus e “ não tinha
letra”...Preciso aqui confessar que sempre achei que essa diferença na
escrita era devido a uma variação linguista diacrônica, devido o enorme tempo
que faz que aquelas inscrições estão lá Quanto tempo Eriberto mais ou menos
você está falando?Bom segundo uma conversa com
tio Zé Dias( o novo) o casarão foi construído em 1928 aproximadamente,
isso nos dá 84 anos...
A CASA CONSTRUIDA EM 1928,EM CIMA VÊ AS INCRIÇÕES.
E o MM?Bom
sempre imaginei (e imagino) que significa Município Martins...Sim senhores mas um registro dessa vez histórico...Um
registro de que aquela propriedade estava ligada ao município de Martins
(Antônio Martins, minha cidade só se emancipou em 1963).Sítio são José...que eu
nunca chamei assim só chamei de Caipora...E porque esse nome?Bem essa
denominação é anterior a meus bisavós terem construído a casa grande ( visto
eles terem morado antes nos Tanquinhos)...Sempre imaginei alguma história...Um
caçador se embrenhara pelas matas...sim ele iria pegar aquela danada da onça,
tiraria o couro como troféu...Dentro da mata ele se enfiava ficando cada vez
mais distante do local onde os outros caçadores estavam...Escurecia e estava
ficando frio...
De repente
ele viu o animal...A danada da onça...apontou a sua espingarda bate-buxa para
atirar quando ouviu um grito:
O caipora: Não!!!!!Não mate este animal....
Olhou para o
local da mata de onde vinha o grito...Era ele, O caipora, uma criatura das
matas que reina sobre todos os animais, estava ali...exatamente como sua avó o
descrevera, o corpo coberto de pelos, os pés virados para trás para enganar quem
fosse atrás dele, sim era ele...e era ele também que atrasara aquele momento, a
meses estava atrás daquela onça...Já
tinha ficado perdido por contra daquela
empreitada...o culpado agora ele sabia que era o caipora!!!Ficou paralisado de
medo, seu coração pulsava, o suor descia de sua testa...
A criatura
fala novamente a aquele homem atônito:
O Caipora:
Vocês homens sentem prazer em destruir a
floresta a casa dos animais e por muito tempo sua casa...Está onça é somente um
troféu para você, não vai servir de alimentação nem nada...deixe-a em paz...
O caçador
ardil lembrou do rolo de fumo que trazia e ofereceu a criatura assim como sua
avó lhe ensinara disse:
O caçador:”
Toma Caipora deixa eu ir embora”...
O
Caipora:HaHaHaHaHa...Isso só funciona quando sinto que o homem não irá matar os
animais por malvadeza!
O caçador
ainda imbuído de maldade:
O caçador:
Pois então matarei ela do mesmo jeito...Você facilitou minha vida deixando-a
tão branda perto de nós...
O caipora:
Mate-a e ressucitu-a, você sabe que tenho esse poder...Só que quando ela voltar
dos mortos não estará tão dócil...E você terá que recarregar seu instrumento
que cospe fogo!!!Vai mate-a...Esse é o mal de vocês homens já habitam há tanto
tempo esse planeta e não sabem que tudo que fizerem terá consequência!!!
O caçador
tomado pelo medo...Tanto da criatura quanto da vingança do animal
ressucitado...Pede para ser deixado em paz:
O caçador: Me
deixe ir...que não voltarei a caçar a não ser que seja para minha sobrevivência...Prometo
respeita-los.
O caipora: Já
imaginava...Todos vocês são assim...Vá e respeite a mata caçador...e conte a
seus semelhantes que dentro dessas matas vive o protetor dos animais...Pode
ir...Mas deixe o rolo de fumo...e também a cachaça que eu sei que você trás no
seu bornó...
O estado de
medo do caçador diminuiu ele atirou para cima...para descarregar a sua
arma...não iria carrega-la mais até conseguir sair da mata, não queria feri
nenhum animal mais, pois podia ser que o caipora ainda pudesse descarregar sua ira sobre ele...Sentia
ao andar em direção a saída que era espreitado...sim ele estava por
lá...vigiando-o...O caçador saiu e contou para todos que lá por aquelas matas
morava O caipora...
Juro que
imaginei essa fábula...Sempre tive interesse por história e o fato de meu pai
ter uma propriedade rural por nome( não oficial) de Caipora me deixava
intrigado...Será realmente que o protetor dos animais já foi visto por aquelas
bandas?Não sei...já perguntei a meu pai e ele como resposta disse: “Eu não era
nem nascido e já chamavam assim”...Bom meu pai está com 66 anos...Isso nos
deixa com as muitas interrogações...Tio Zé Dias novo( meu tio avô) com 88 anos disse que
antes do pai dele construir a casa lá era um canto abandonado, era de um tal de
Mané Chico ( pelo o que eu entendi meu bisavô comprou a esse cara a terra) e
quem morava por lá eram o povo da família Chapéu, interessante como meu tio avô
se referiu a localidade de forma preconceituosa...Por que não produzia nada
,”era tudo ao Deus dará”, “ai papai comprou e construiu aquela casa não sabe?
E colocou o nome de sitio são José, e ai
passou a produzir muito feijão, comprou muito gado ali na região e ele fornecia
o gado lá na Lucrecia,papai tinha um irmão lá chamado de Chico Mariano que
recebia o gado, porque lá estavam precisando pois estavam construindo o açude
da Lucrécia, e colocou novos moradores que produziam, produziu muita rapadura mais era salgada e
gente não sabia porque, ai papai ficava sem vender a rapadura por isso deixou
de produzir...mais teve muita plantação de algodão também...”
Bem senhores
depois dessa conversa que tive com tio Zé elaborei uma nova teoria sobre o nome
daquela localidade, segundo Luis da Câmara Cascudo: "ser caipora é o mesmo
que ter azar, ter sorte madrasta, ser perseguido pelo destino (...). Nas lendas
tupis, o caapora é representado ora como uma figura de um pé só, à maneira do
saci, ora com os pés virados para trás, simbolizando por isso, como diz João
Ribeiro, 'a pessoa que chega tarde e nada alcança’”.O fato de ele ter
enfatizado que a Caipora , não produzia, era abandonada, me fez pensar, será
que o nome da localidade não está relacionado a sorte madrasta daquelas terras
(sorte esta imaginada pela população da época)?Será que a mudança que meu
bisavô deu de nome ao lugar não foi para afastar o azar que por ventura estaria
ali?As famílias que moravam ali antes de 1928, eram pobres,não produziam...Será que é por isso que chamavam aquela gleba de
Caipora?
Bom amigos o
fato é que esse ar de mistério só enobrece aquelas terras...por lá nos anos
dourados de meu bisavô já teve engenho de cana de açúcar, criou se muito gado
bovino( hoje por lá ainda mantêm a tradição só não tem tanto como antigamente).
O Sítio São José(A caipora) já teve dois açudes um que hoje ainda permanece lá
e outro que arrombou...Este último também me deixou fascinado pois como já me
contou tia Inês foi construído com uma leva de homens, usando burros para
retirar a terra em caçuás!Sim isso me deixava
quase boquiaberto...Sem trator, foi construído um açude tão grande!!!!Segundo
constam ele arrombou por falta de manutenção...uma pena!
O PÉ DE CAJARANA...ERAM HORAS MÁGICAS AS QUE PASSEI DEBAIXO DELE...
O que falar
mais dessa terra?Bem tem tanta coisa a casa construída por meu tio Zé Dias novo
que hoje é do meu pai...Do pé de Cajarana que fica no “muro” da casa...Na qual
eu brincava infinitas horas fazendo das raízes curral,das pedras os meus
bois...Sim eu adoro aquele pé de cajarana, adorava brincar ali...Adoro o cheiro
do mato quando chove, tudo ali revive!!!!Formam se os córregos...que se enchem
de piabas...Ah...e dentre os córregos, não poderia deixar de falar do córrego
de Adão, perfeito para um banho nos meus tempos de criança hoje já se encontra
um pouco assoreado....Mas ainda tá lá o vi nessas férias...vi a água límpida
correndo...correndo...nele!Bom para vocês meus amigos não acharem que quando
criança também divaguei sobre o nome do córrego...Não senhores não cheguei a
esse ponto, o córrego foi batizado por causa de um morador de suas proximidades
chamado Adão que ainda é vivo por sinal mas não mora mais lá.
Bem é isso
que tenho para falar dali...Daquelas terras vem parte de minha descendência,dali tiro
lembranças da minha infância...Dali papai tira ainda hoje feijão, milho,
jerimum...Mesmo estando aposentado.
Como diz o
bom e sábio matuto “inté” outra postagem.
Eriberto Esdras de Oliveira
Aluno do terceiro período de Odontologia da UFRN.