domingo, 30 de setembro de 2012

ABC DO NORDESTE – PATATIVA DO ASSARÉ

    Tive a alegria de acordar hoje tendo recebido um email de Altemar Bezerra, com um belo poema do grande poeta Patativa do Assaré, o titulo é ABC DO NORDESTE, resolvi dividi-lo, guarda-lo aqui nesta gaveta virtual.Boa leitura!

Grande Patativa.













A - Ai, como é duro viver                                                                                                            
nos Estados do Nordeste
quando o nosso Pai Celeste

não manda a nuvem chover.
É bem triste a gente ver
findar o mês de janeiro
depois findar fevereiro
e março também passar,
sem o inverno começar
no Nordeste brasileiro.


B—Berra o gado impaciente                                                                   
reclamando o verde pasto,                            
desfigurado e arrasto,

com o olhar de penitente;
o fazendeiro, descrente,
um jeito não pode dar,
o sol ardente a queimar
e o vento forte soprando,
a gente fica pensando
que o mundo vai se acabar.


C — Caminhando pelo espaço,        
                                                      
como os trapos de um lençol,               
  
pras bandas do pôr do sol,
as nuvens vão em fracasso:                   

aqui e ali um pedaço
vagando... sempre vagando,
quem estiver reparando
faz logo a comparação
de umas pastas de algodão
que o vento vai carregando.


D — De manhã, bem de manhã,
vem da montanha um agouro
de gargalhada e de choro
da feia e triste cauã:
um bando de ribançã
pelo espaço a se perder,
pra de fome não morrer,
vai atrás de outro lugar,
e ali só há de voltar,
um dia, quando chover.


E — Em tudo se vê mudança
quem repara vê até
que o camaleão que é
verde da cor da esperança,
com o flagelo que avança,
muda logo de feição.
O verde camaleão
perde a sua cor bonita
fica de forma esquisita
que causa admiração.


F — Foge o prazer da floresta                                                 
o bonito sabiá,

quando flagelo não há                                                
cantando se manifesta.
Durante o inverno faz festa
gorjeando por esporte,

mas não chovendo é sem sorte,                         
fica sem graça e calado
o cantor mais afamado
dos passarinhos do norte.


G — Geme de dor, se aquebranta
e dali desaparece,
o sabiá só parece
que com a seca se encanta.
Se outro pássaro canta,
o coitado não responde;
ele vai não sei pra onde,
pois quando o inverno não vem
com o desgosto que tem
o pobrezinho se esconde.


H — Horroroso, feio e mau
de lá de dentro das grotas,
manda suas feias notas
o tristonho bacurau.
Canta o João corta-pau
o seu poema funério,
é muito triste o mistério
de uma seca no sertão;
a gente tem impressão
que o mundo é um cemitério.


I — Ilusão, prazer, amor,
a gente sente fugir,
tudo parece carpir
tristeza, saudade e dor.
Nas horas de mais calor,
se escuta pra todo lado
o toque desafinado
da gaita da seriema
acompanhando o cinema
no Nordeste flagelado.


J — Já falei sobre a desgraça
dos animais do Nordeste;
com a seca vem a peste
e a vida fica sem graça.
Quanto mais dia se passa
mais a dor se multiplica;
a mata que já foi rica,
de tristeza geme e chora.
Preciso dizer agora
o povo como é que fica.


L — Lamento desconsolado                 
                                               o coitado camponês
porque tanto esforço fez,
mas não lucrou seu roçado.
Num banco velho, sentado,
olhando o filho inocente
e a mulher bem paciente,
cozinha lá no fogão
o derradeiro feijão
que ele guardou pra semente.


M — Minha boa companheira,
diz ele, vamos embora,
e depressa, sem demora
vende a sua cartucheira.
Vende a faca, a roçadeira,
machado, foice e facão;
vende a pobre habitação,
galinha, cabra e suíno
e viajam sem destino
em cima de um caminhão.


N — Naquele duro transporte                            
                                 sai aquela pobre gente,
agüentando paciente
o rigor da triste sorte.
Levando a saudade forte
de seu povo e seu lugar,
sem um nem outro falar,
vão pensando em sua vida,
deixando a terra querida,
para nunca mais voltar.


O — Outro tem opinião
de deixar mãe, deixar pai,
porém para o Sul não vai,
procura outra direção.
Vai bater no Maranhão
onde nunca falta inverno;
outro com grande consterno
deixa o casebre e a mobília
e leva a sua família
pra construção do governo.


P - Porém lá na construção,
o seu viver é grosseiro
trabalhando o dia inteiro
de picareta na mão.
Pra sua manutenção
chegando dia marcado
em vez do seu ordenado
dentro da repartição,
recebe triste ração,
farinha e feijão furado.


Q — Quem quer ver o sofrimento,
quando há seca no sertão,
procura uma construção
e entra no fornecimento.
Pois, dentro dele o alimento
que o pobre tem a comer,
a barriga pode encher,
porém falta a substância,
e com esta circunstância,
começa o povo a morrer.


R — Raquítica, pálida e doente
fica a pobre criatura
e a boca da sepultura
vai engolindo o inocente.
Meu Jesus! Meu Pai Clemente,
que da humanidade é dono,
desça de seu alto trono,
da sua corte celeste
e venha ver seu Nordeste
como ele está no abandono.


S — Sofre o casado e o solteiro
sofre o velho, sofre o moço,
não tem janta, nem almoço,
não tem roupa nem dinheiro.
Também sofre o fazendeiro
que de rico perde o nome,
o desgosto lhe consome,
vendo o urubu esfomeado,
puxando a pele do gado
que morreu de sede e fome.


T — Tudo sofre e não resiste
este fardo tão pesado,
no Nordeste flagelado
em tudo a tristeza existe.
Mas a tristeza mais triste
que faz tudo entristecer,
é a mãe chorosa, a gemer,
lágrimas dos olhos correndo,
vendo seu filho dizendo:
mamãe, eu quero morrer!


U — Um é ver, outro é contar                          
                                  quem for reparar de perto
aquele mundo deserto,
dá vontade de chorar.
Ali só fica a teimar
o juazeiro copado,
o resto é tudo pelado
da chapada ao tabuleiro
onde o famoso vaqueiro
cantava tangendo o gado.


V — Vivendo em grande maltrato,
a abelha zumbindo voa,
sem direção, sempre à toa,
por causa do desacato.
À procura de um regato,
de um jardim ou de um pomar
sem um momento parar,
vagando constantemente,
sem encontrar, a inocente,
uma flor para pousar.


X — Xexéu, pássaro que mora
na grande árvore copada,
vendo a floresta arrasada,
bate as asas, vai embora.
Somente o saguim demora,
pulando a fazer careta;
na mata tingida e preta,
tudo é aflição e pranto;
só por milagre de um santo,
se encontra uma borboleta.


Z — Zangado contra o sertão
dardeja o sol inclemente,
cada dia mais ardente
tostando a face do chão.
E, mostrando compaixão
lá do infinito estrelado,
pura, limpa, sem pecado
de noite a lua derrama
um banho de luz no drama
do Nordeste flagelado.


Posso dizer que cantei                               
              
aquilo que observei;
tenho certeza que dei
aprovada relação.
Tudo é tristeza e amargura,
indigência e desventura.
— Veja, leitor, quanto é dura
a seca no meu sertão.

Autoria - PATATIVA DO ASSARÉ - O maior poeta do sertão nordestino.


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Só para ficar guardado neste Blogger.



Meus amigos as constantes atividades rotineiras de nossas vidas fazem com que, nós nos afastemos, é uma semana sem se ver, um mês, dois meses...somado isso a nossa negligência de ligar de mandar um sms, de dar um oi, ou mesmo vir numa página como esta e escrever alguma besteira besta vão fazendo com nos tornemos estranhos...
Quem é o culpado?Bem, acho que o culpado sou EU, EU que não apareço, EU que não ligo, EU que não escrevo nenhuma besteira besta nos faces da vida!Por isso tirei essa manhã desse sete de setembro para falar com você e com todos que fizeram e fazem parte de minha vida, muito obrigado amigos por tudo.
­­­­“Ué Eriberto o que a gente fez? Tu tá doido tá?” Não gente, esse obrigado não é por nada atual, alias é, é por vocês serem amigos, estarem sempre prontos a me escutar, por vocês saberem criticar o que fiz e faço de errado. É um muito obrigado necessário, e que exprime todo o carinho e admiração que sinto por vocês pessoas!!!"Perai Eriberto isso já é baitolismo demais não?"Bem senhores e senhoras, só não queria e não quero aparecer para vocês com uma mensagem no próximo dia do amigo...A amizade é algo para ser festejado, falado em qualquer dia ou em qualquer época, lógico que faço meu papel social e envio mensagens naquele dia, contudo mostrar o quanto cada um de vocês são importantes na minha vida, na minha caminhada é algo para ontem!!!!
Acho isso de extrema importância galera, hoje me arrependo de não ter contato com pessoas que foram muito importantes na minha vida, "ah não eram amigos verdadeiros" bem há quem diga isso. Todavia não, prefiro não pensar assim, assim tiramos nossa responsabilidade sobre aquela amizade...Será que aquele amigo que não é mais seu não pensa do mesmo jeito?

Para manter nossa amizade viva, acesa, incandescente é por isso que escrevo, escrevo por que você é importante para mim, só isso!Escrevo porque temo o dia em que porventura seja tarde demais e eu não possa mais dizer isso...porque  estaremos distantes demais para lembramos uns dos outros, só por isso.
Eriberto Esdras de Oliveira.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Quem foi Landell de Moura?


Recebi essa foto como email do diretor do Memorial Landell de Moura, a inclusão do nome do pe. Roberto é uma forma do país pagar a grande divida com esse grande inventor, uma vez que mesmo ele tendo feito a transmissão da voz humana antes de qualquer outro (antes do italiano Marconi considerado o "pai" do rádio oficial) ele não é reconhecido como tal. Conheci a figura do padre Landell por acaso, assistindo um documentário sobre ele na tv senado.
Fiquei impressionado com seus inventos (isso mesmo gente no plural), daí procurei saber mais sobre a vida desse brasileiro esquecido e entrei em contato por email com seu biografo Ivan Dornelles, ele gentilmente mandou via correio farta documentação sobre o padre e regularmente envia emails como este.
Tenho certeza que essa reportagem de hoje no Correio do Povo  de Porto Alegre é mais uma vitória dele (Ivan) e de todos que lutam para tirar o nome do Padre inventor do total ostracismo em que se encontra hoje, afinal se perguntarmos: "Quem foi Landell de Moura?" A um brasileiro este saberá responder?Lógico que não, ao padre Landell foi negado o reconhecimento, e as devidas homenagens.
Como estudante fico feliz de ver que uma parte dessa grande dívida está sendo paga, se hoje  nesse Brasil de caboclo, de mãe preta e pai João é difícil se fazer ciência,  e tentar produzir algo imagine no final do século XIX? Tentando fazer algo novo e sem apoio de nada e nem de ninguém...Sem falar das constantes transferências de paróquia que ele sofria, Landell de Moura fazer o que o senhor fez não é para qualquer um não.